TV Jovem Pan
TV Jovem Pan | |
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Televisão Jovem Pan Ltda. | |
São Paulo, SP Brasil | |
Tipo | Comercial |
Canais | 16 UHF analógico |
Sede | São Paulo, SP |
Slogan | O canal brasileiro da informação |
Fundador(es) | Antônio Augusto Amaral de Carvalho João Carlos di Genio Fernando Vieira de Mello |
Pertence a | Grupo Jovem Pan |
Fundação | setembro de 1991 |
Extinção | julho de 1995 |
Sucessora | CBI |
Prefixo | ZYB 877 |
Cobertura | Região Metropolitana de São Paulo |
TV Jovem Pan (também chamada de Jovem Pan TV) foi uma emissora de televisão brasileira sediada em São Paulo, capital do estado homônimo. Operava no canal 16 UHF e foi inaugurada em 1991 pelo empresário Antônio Augusto Amaral de Carvalho (conhecido como Tuta) em parceria com João Carlos di Genio e Fernando Vieira de Mello, que pouco tempo depois venderam suas cotas para Hamilton Lucas de Oliveira. Pertencia ao Grupo Jovem Pan, e sua sede se localizava na Barra Funda, onde após a extinção da emissora, em 1995, passou a funcionar a sede da Rede Record. Sua programação era ligeiramente baseada na CNN, e resumia-se em documentários, jornalismo e transmissões esportivas, realizadas em parceria com a rádio Jovem Pan.
História
[editar | editar código-fonte]Antecedentes
[editar | editar código-fonte]No ano de 1987, o então presidente José Sarney outorgou a Jovem Pan uma concessão de TV.[1] Desde o fechamento da TV Tupi, a família Machado de Carvalho discutia o lançamento de uma versão televisiva da Pan, fato que foi amplamente divulgado nas rádios do grupo.
Para a viabilização do projeto, foram investidos mais de US$ 16 milhões em equipamentos, sendo US$ 3,5 milhões somente em permutas com empresas como Pirelli, Ford, Philco, Concremix e tantas outras que garantiam seus espaços na emissora em troca de fornecimento de equipamento e materiais. Mais de US$ 9 milhões foram aplicados em equipamentos de última geração e o restante foi aplicado na reforma de um prédio no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, que abrigaria quatro estúdios e o departamento comercial, administração, diretoria e presidência.[2]
A torre de transmissão, localizada na Avenida Paulista, tinha a mesma altura que a torre da Globo e com dez vezes mais potência que a torre da emissora líder de audiência no Brasil, além de contar com a possibilidade de transmissão em som estéreo e em SAP.[2] Na época, havia até um sensor que determinava o tempo, o indicando por cores.
Dentre tantos aparatos, a nova emissora contava com ônibus com outras seis câmeras sem fio, gerador de caracteres, nove viaturas e um helicóptero, além de já ter assegurado, através de um contrato com a Embratel que seu sinal fosse transmitido em todo o país via antenas parabólicas, além de iniciar uma rodada de negociação com outras emissoras Brasil afora para uma possível afiliação.[2]
Quanto a programação, o diretor vice-presidente da Jovem Pan Marcelo Mainardi afirmava a jornais da época que a nova emissora investiria em programação ao vivo e estaria amparada no mesmo tripé de programação que a Jovem Pan AM (esporte, jornalismo e prestação de serviço).[2]
Implantação do sinal
[editar | editar código-fonte]No final de 1990, a TV Jovem Pan já realizava transmissões experimentais entre 12h e 0h, podendo ser captada num raio de 50km a partir da Avenida Paulista.[1] A primeira transmissão foi feita durante o décimo-quarto aniversário da Jovem Pan FM. Nesse período, alguns jogos do Campeonato Brasileiro foram gravados para servir de treinamento a futura equipe de narradores e comentaristas.
Em janeiro de 1991, a emissora realizava transmissões regulares da Copa São Paulo de Futebol Junior, além do campeonato Campeonato Paulista de Futsal e o Torneio Clausura do Campeonato Argentino.[1] No segundo semestre, também passou a transmitir o Campeonato Paulista.[3] A cobertura se tornou referencia pela inovação das câmeras espalhadas pelo campo. Por questões contratuais, os jogos eram transmitidos somente as 22h com narração de Flávio Prado e Milton Neves.[4]
Para o lançamento oficial, foi lançado uma campanha em parceria com a Abril Radiofusão (dono da então MTV Brasil, que também só poderia ser captada em UHF) que funcionava basicamente como um tutorial para que os televisores captassem a frequência UHF. A campanha envolvia a rádio, as revistas do grupo Abril e milhares de panfletos espalhados pela Grande São Paulo.[1]
No entanto, os primeiros empecilhos já começam a aparecer, já que não havia previsão para a inauguração oficial da emissora e tampouco uma equipe de jornalismo formada, tendo um prazo (de acordo com a lei) para entrar no ar até o final daquele ano.[5] Outros contratempos que colaboraram para o retardamento da estreia da emissora foram os atrasos na entrega de equipamentos, recontratação de empreiteira, concordata de fornecedores de antenas e um processo burocrático de separação administrativa e contábil da rádio.[5]
Em abril daquele ano, a Indústria Brasileira de Formulários (IBF) de Hamilton Lucas de Oliveira negocia uma participação de 40% na TV Jovem Pan, algo avaliado em US$ 10 milhões (anos depois, também administraram a Rede Manchete),[6] dentre os interessados em adquirir parte da recém-criada emissora estavam Boni, diretor de programação da Globo e até Roberto Irineu Marinho, filho mais velho de Roberto Marinho.[7]
As negociações se encerram em agosto, quando a IBF finalmente consegue os 40% de participação na TV Jovem Pan, no entanto, a participação da IBF gerou estranheza na grande imprensa.[8] O Jornal do Brasil questionava em uma matéria “Por que, afinal, um grupo sem nenhuma experiência com empresas jornalísticas estaria entrando nesse ramo de negócio num momento econômico difícil?” [6]
Mesmo sem uma programação formada, a TV Jovem Pan já atingia outras cidades além da Grande São Paulo, com seu sinal sendo transmitido em Sorocaba, Salto e Itu e com previsão de implantação em outras 77 cidades.[9] Em 1992, ainda escorada em documentários, filmes antigos e transmissões esportivas, a emissora se vê em meio de muita boataria. Dentre eles, de que Hamilton Lucas estaria disposto a aumentar sua participação na emissora[10] e até uma parceria com o grupo mexicano Televisa estava sendo especulada.[11]
A decadência começava naquele mesmo ano, pouco após a transmissão da Copa Libertadores da América, quando gerou imagens para a Rede OM. A cobertura foi interrompida antes do final e aos poucos os eventos foram saindo da grade de programação. As desavenças entre os três sócios eram muitas, estas acarretaram em salários atrasados, anunciantes que perderam o interesse e o descumprimento de compromissos.[12] Em entrevistas recentes, Tuta afirma que para Di Gênio, os investimentos feitos eram "superfaturados".[13][14]
CPI da Jovem Pan
[editar | editar código-fonte]Em novembro de 1992, a TV Jovem Pan não tinha um gerador de receita para que o pagamento de suas dívidas fosse efetuado. Além disso, as inúmeras discordâncias entre os proprietários da emissora transformaram o projeto num grande “elefante branco”. A solução encontrada por Tuta e Hamilton foi a dissolução da emissora.[12]
Entretanto, a tentativa de dissolução foi impedida por Di Gênio, o terceiro sócio que alegava que a emissora era viável.[15] Em maio de 1993, é instaurada a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da TV Jovem Pan, na qual foi investigado as irregularidades na formação da emissora.[16]
Em junho, a CPI encaminha um documento pedindo a intervenção federal na emissora, amparado em denúncias como desvio de verbas, superfaturamento de US$ 5 milhões. As coisas pioram quando se descobre o envolvimento de Hamilton Lucas no esquema de PC Farias, desgastando ainda mais a imagem da emissora.[17]
Cinco meses depois, Tuta é retirado da sociedade. Suas cotas deixavam de existir e ele receberia o valor do capital social quando a emissora tivesse recursos para paga-lo. De acordo com Fernando Simão, jornalista contratado da emissora na época, os problemas começaram assim que Hamilton Lucas entrou na sociedade.[18]
O plano de Hamilton era declarar a falência da emissora pra que suas ações caíssem e, então, ele pudesse compra-las e ter maior e/ou total poder sobre os rumos da programação.[12] A CPI concluiu que houve prática de sonegação fiscal, enriquecimento ilícito por parte de Hamilton e Tuta, além do reconhecimento de diversas dividas com o FGTS e o INSS.[12]
Extinção
[editar | editar código-fonte]Em 1995, a TV Globo São Paulo e a TV Record travam uma disputa para a compra da sede da TV Jovem Pan na Barra Funda. Sagra-se vencedora a Record, que leva o prédio, 32 câmeras Beta, três estúdios e quatro unidades móveis. Estima-se que a compra girou em torno de US$ 30 milhões.[19]
O dinheiro arrecadado na venda da propriedade permitiu que Tuta fosse finalmente ressarcido e a emissora pudesse seguir novos rumos, agora com uma sede mais modesta, outro nome e comandada apenas por Hamilton Lucas e Di Gênio.[20]
No mês de julho daquele mesmo ano, o canal 16 UHF passa a transmitir a programação do Canal Brasileiro da Informação e vende seus horários para o Shop Tour, tornando-se um canal de TV especializado em vendas.
Referências
- ↑ a b c d Ricardo Anderáos (27 de janeiro de 1991). «Jovem Pan copia 'know-how' da CNN e planeja estrear em março». Folha de S. Paulo. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ a b c d Célia Demarchi (26 de fevereiro de 1990). «TV Jovem Pan inicia suas transmissões em maio». Meio & Mensagem. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «TV Jovem Pan enriquece receita da rádio com imagens ao vivo». Folha de S. Paulo. 29 de setembro de 1991. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «TV Jovem Pan tinha Milton Leite e Milton Neves como narradores». Torcedores. 10 de maio de 2016. Consultado em 31 de maio de 2020
- ↑ a b Lucélia Caseiro (11 de março de 1991). «TV Jovem Pan não define data da inauguração». Meio & Mensagem. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ a b Célia Chaim (5 de abril de 1991). «IBF poderá adquirir 40% da TV Jovem Pan». Jornal do Brasil. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «Duelo de titãs». O Globo. 28 de janeiro de 1991. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «IBF compra mais». Jornal do Brasil. 22 de agosto de 1991. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «Emissoras investem em conceito e expansão». Meio & Mensagem. 2 de dezembro de 1991. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «Fumaça». Jornal do Brasil. 11 de abril de 1992. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «Parceria». Jornal do Brasil. 30 de abril de 1992. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ a b c d «CPI da TV Jovem Pan (também conhecido como Caso TV Jovem Pan)» (PDF). Arquivado do original (PDF) em 22 de abril de 2016
- ↑ Cristina Padiglione (21 de setembro de 2009). «Ele trocou TV por rádio. E se deu bem». Estadão. Consultado em 5 de junho de 2021
- ↑ «Criatividade orienta o senhor Jovem Pan». Propmark. 21 de setembro de 2009. Consultado em 5 de junho de 2021
- ↑ «CPI da Jovem Pan». Jornal do Brasil. 25 de agosto de 1993. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ Gustavo Krieger (5 de maio de 1993). «CPI da TV Jovem Pan tem 1ª reunião». Folha de S. Paulo. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «Cheque liga PC à TV Jovem Pan». Jornal do Brasil. 9 de junho de 1993. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ José Paulo Sant'Anna (1 de novembro de 1993). «Justiça afasta Tuta da sociedade da TV Jovem Pan». Meio & Mensagem. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
- ↑ «TV Jovem Pan vende prédio para Record». Folha de S. Paulo. 4 de março de 1995. Consultado em 12 de fevereiro de 2017
- ↑ Luiz Moura (6 de março de 1995). «Record compra instalações da TV Jovem Pan». Meio & Mensagem. Consultado em 12 de fevereiro de 2017 – via PUC-Rio
Ver também
[editar | editar código-fonte][Categoria:Canais de televisão de língua portuguesa]]